segunda-feira, 23 de novembro de 2009

plano...II...


Desde a sua criação este blog teve sempre um carácter temporário, no sentido em que se pretendia algo mais abrangente.
Na altura em que nasceu não havia nem a disponibilidade de meios, nem o tempo necessário para a criação do espaço que se pretendia. Assim mesmo, e com três meses de atraso, o projecto que detinha ganhou forma e está agora online para quem quiser ver e seguir.
Embora já todos os textos estejam no outro sítio, o estoriasehistoriasblog vai-se manter no ar até ao final do ano, pelo que depois vai deixar de estar disponível e ficará apenas o estoriasehistorias.com

A todos aqueles que me seguiram aqui, o meu sincero obrigado e espero que continuar a contar com vocês nesta nova etapa deste projecto.


B. Manel P. da Silva

Lisboa, 23 de Novembro, 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

obstáculos e lições no caminho III...


...foi com a mudança de casa que mudou tudo o resto, que mudou nossa relação... se semanas antes nm havia já conhecido todos os meus amigos e pessoas que marcavam a minha vida, quando mudei de casa esse conhecimento aprofundou-se... vieram os exames e o falhanço uma vez mais... estava sozinho e nessa altura era nm que passava a maior parte do tempo comigo... todos os dias jantava comigo, almoçava alguns deles e passava tardes e noites comigo... nasceu a partir daqui uma grande amizade... com fokinha passava partes do meu dia, com nm passava todos os momentos do meu dia dentro e fora de casa... ... apercebi-me nessa altura que algo fugia um pouco dos sentimentos e da entrega de uma amizade, por querida e sincera que essa amizade possa ser... se da minha parte essa entrega aos amigos era normal, da parte de nm havia uma entrega bastante superior à minha ainda... nm assumiu por essa altura sua homossexualidade, ao fim de meses de secretismo assumiu sua homossexualidade com garra e força perante mim e perante aqueles que me rodeavam na época... preocupação constante, mensagens e conversas que nunca tinham um fim e quando chegava esse fim era porque eu havia adormecido... nm cujos pais tinham casa na serra da estrela, passou todas as férias de verão comigo ou pelo menos por perto... se eu ia para a serra domingo ele ia segunda, se eu voltava sábado para lisboa, ele vinha para lisboa sexta... dei-lhe naquela altura chaves de minha casa, para que numa emergência ele pudesse interceder, visto ser a pessoa mais próxima e em quem mais confiava na altura... dei as minhas, e recebi as dele... assim foi o verão, pelo menos até quase ao final... altura em que tudo mudou... nm que na altura ficava cá em casa até tarde e acabava por dormir por cá, indo apenas embora ao outro dia a meio da manhã... partilhava a cama comigo sem que houvesse constrangimentos alguns, até que um dia estupidamente decidiu tocar-me/procurar-me... situação idêntica havia decorrido meses antes com outra pessoa quase desconhecida, situação da qual nm havia tido conhecimento e havia sabido como me tinha sentido... ceguei quando aconteceu, por ele ser o meu melhor amigo, por ele ser mais que um irmão, por nunca em momento algum ter tido insinuação alguma perante ele, por aquela atitude corroeruma amizade que julgava para anos a fio... afastei-me durante algum tempo ao fim disso... se no momento em que aconteceu me custava a atitude e o acontecimento, momentos depois custou-me ouvir a justificação da parte dele de que tinha tido indícios da minha parte que o levaram a fazê-lo... meu sono é pesado, mas só tive em toda a minha vida um momento em que por ansiedade de tar com Tinkie durante uma noite a dormir com um estranho num evento político partidário a sonhar com Tinkie e pensando ser ele que tava ali à minha frente pedi-lhe que viesse dormir comigo... situação cómica par quem a imagina e terrível para mim que a vivi e me senti super envergonhado e constrangido na altura perante aquele rapaz... com nm sabia que era simplesmente impossível de ter tido uma atitude sequer semelhante quanto mais parecida e doeu-me ouvir aquilo como justificação... demorou muito tempo até digerir, mas com o tempo consegui desculpar... não devia tê-lo feito, aquele era o momento para proceder a um afastamente definitivo, tivesse eu na altura o discernimento e frieza para analisar as coisas como tenho hoje... nm tinha a perfeita noção de quem eu amava, do que pretendia, e um dia em jeito de confissão disse-me que tinha um sonho, e o sonho era ver-me de novo com Tinkie não naquele momento, um dia no futuro... semanas mais tarde estava de novo a lutar por Tinkie... durante todos estes meses, quase todos achavam que eram estranhos os comportamentos de nm comigo e me alertavam para algo de que já me havia dado conta, a imensa obcessão de nm por mim... sabia disso, tal como sabia que estava a ser manipulado em muitas situações... apesar de ter essa noção fui deixando de lado isso, e concentrei-me no coração bom que via em nm, na pessoa que existia e que havia sido desde a infância habituada a manipular para conseguir tudo o que entendia necessitar... acreditei puder lidar com isso e ajudá-lo a livrar-se desse terrível defeito... confrontei-o algumas vezes com o gostar de mim e a resposta que ouvi foi um não, um categórico não, no qual nunca acreditei... preocupava-me sabê-lo, mas acahava que era algo que com o tempo ia ao sítio e que ele com o tempo acabaria por racionalizar naturalmente... com todo o desequilíbrio e medos sentidos em relação à luta por Tinkie, nm convenceu-me a ir passar um fim de semana fora de lisboa... se no ínicio não aceitei, com o passar do tempo e ao fim de tanta pressão para o efeito aceitei... a proposta era ir para o alentejo... pedi para alterar para o norte, precisava ver pessoas diferentes das pessoas do sul, e já que ia sair de lisboa, então que aproveitasse para reflectir num sítio que me fizesse bem... a escolha foi o porto... consegui nesse fim de semana momentos de reflexão, os primeiros desde a vinda para lisboa, fiz promessas com base nesses momentos de reflexão, promessas que não tinham bases, apenas sentido... de nm nesse fim de semana notei o seu papel de mediador, num papel superior que me era justificado com o papel de me estar a ajudar com Tinkie... meses mais tarde eu e Tinkie recomeçámos para "alegria" daquele que era o nosso padrinho, nm... porém como diz a gíria popular, quanto mais prima mais se lhe arrima, neste caso é só trocar primo e manter o resto... o extremo dos extremos foi quando permiti que na minha noite com Tinkie, no porto na nossa passagem de ano, nm aparecesse e dormisse connosco... de dezembro ao fim de maio, foram meses em que de facto faltava apenas a noite ser passada a três, eu, Tinkie e nm... faltou apenas e só isso... engraçado foi que era nm quem me dizia sempre que surgiam problemas na relação, que talvez estivesse demasiado tempo connosco... entenda-se isto como cada um achar que deve entender, se na altura para mim não era claro, hoje é... assim como nos momentos em que eu estava mais desanimado e desequilibrado surgia nm para falar comigo e para se mostrar ali... sabia que estava a ser manipulado em pequenas coisas e não entendi afinal que estava a ser manipulado não em pequenas mas grandes coisas... saídas com o Tinkie nos fins de semana que eu ia visitar meus pais à serra da estrela que me eram reproduzidas na íntegra por nm ao fim de ajustadas ao objectivo que se pretendia... Tinkie saiu no final de maio deste ano por a situação estar insustentável para ele em diversos aspectos... ficou nm para uma vez mais me apoiar, até que decidi abdicar daquela presença que até para mim estava a começar a ser sufocante, até para mim que acreditava... que acreditava que podia ser diferente... que poder ajudar alguém que julgava puder mudar e tornar diferente... só em londres com alguns factos percebi que a base de tudo estava na maior manipulação que já assisti, digna de génios como Alfred Hitchcock... dividir para conquistar...

obstáculos e lições no caminho II...


... é certo que não foi uma amizade convencional nos tempos iniciais... era uma pessoa diferente aquele nm, uma pessoa nem sempre fácil de saber aquilo em que pensava, aquilo que pretendia... foi em dois mil e sete que nos conhecemos... nos meses seguintes tivemos conversas esporadicas... nunca nada que passasse disso... contei-lhe o facto de ser homossexual pouco tempo depois de termos começado a falar... notei na altura que muitas das conversas antes de ter confessado a minha orientação sexual, iam demasiadas vezes de encontro a esse tema... já tinha contado quando vaticinei que talvez não devesse ter confessado aquilo... arrependi-me não sei bem porquê, mas arrependi-me... desmenti a confissão na primeira oportunidade que tive e senti-me mais aliviado porque me havia livrado de um sentimento que não sei definir, mas que me causava angústia por o ter feito... chegaram as férias de verão e nessas mesmas férias precisei de algo, algo a que sempre estarei grato a seus pais pelo empenhamento que depositaram na minha causa, porém foi nesse mesmo momento que notei a enorme dedicação e confiança de nm ao assunto... deu certo e a profecia de nm cumpriu-se... ficou um enorme sentimento de gratidão, e estarei sempre em dívida no que toca a esse assunto... mas não foi ainda nesse momento que se criaram os laços que tempos depois se criaram, aliás a seguir a essa aporximação vieram alguns tempos de afastamento sem que houvesse algum motivo especial, simplesmente os laços que até aquele momento haviam sido criados não eram suficientes para uma amizade quotidiana e forte... nm não era uma pessoa de quem se gostasse à primeira ou segunda vista, era alguém que tiha de se aprender a lidar e a conhecer com o tempo... foi isso que aconteceu já em dois mil e oito... não posso precisar mas penso nos voltámos a aproximar em abril desse ano... começamos a falar e nesse momento já nm sabia da minha homossexualidade, desta feita sem rodeios, conhecia já Tinkie nessa altura... saímos juntos algumas vezes... era notório em nm a tentativa constante de agradar mas não conseguia naquele momento entender porquê... em abril desse ano andava eu numa busca desenfreada por encontrar uma casa... meses antes em novembro de dois mil e sete havia saído da casa onde estava para ir viver com ram um amigo que conhecia antes mesmo de vir para lisboa, alguém por quem antes de conhecer Tinkie me havia envolvido numa altura em que olhava para ele de uma forma especial... sentia admiração pela pessoa que ele demonstrava ser e que com o passar do tempo percebi que não era, que não passava de uma representação oferecida a todos os totós que vinham para lisboa sem conhecerem a realidade gay da cidade, o mesquinhice do mundo gay e as imensas teias que se verificavam... apesar de ter descoberto a realidade sobre ele, acreditei que por detrás de toda a representação podia estar um ser bom, um coração com algo para dar... salvaguardei a amizade com ram apesar daquela representação porque mal ou bem foi ele que acompanhou o sofrimento que mm causara e quando em novembro de dois mil e sete o vi assustado e com medo de não ter condições para manter a casa que havia alugado porque a pessoa a quem alugava quarto decidiu sair, optei por deixar o quarto que havia alugado um ano antes quando cheguei a lisboa e que naquela altura não era o sítio onde me sentia bem, na realidade sentia-me estranho naquele quarto, naquela casa e por isso também decidi mudar... percebi desde muito cedo que aquela mudança não ia dar bons resultados... percebi o egocentrismo de ram e todas as tentativas de manipulação a mim e a Tinkie, que na altura foi para lá viver comigo, apesar de não gostar minimamente de ram... a situação evoluiu até ao ponto de se tornar insustentável e de me causar um desgaste e pressão psicológica tal que a cada dia a vontade era de espancar com mais e mais força aquele ser que aos meus olhos começava a ser visto como o ser humano mais desprezível à face da terra - refiro-me a ram meu colega de casa... meses antes de a situação chegar a este ponto um colega de faculdade que havia sido da mesma turma que eu no preparatório e secundário em gouveia e que estava a estudar o mesmo que eu na mesma faculdade, me propôs vivermos juntos... falei com meus pais, dei a conhecer a situação e comecei à procura de casa... encontrei a casa que procurava... perto da faculdade, gira e em conta para nós... quando ia dizer o sim a resposta da imobiliária foi que não estava já disponível... decidi pedir ajuda aos pais de nm para intercederem nessa situação e não tardou a receber um telefonema da imobiliária a perguntar qual a data que pretendia para a assinatura de contrato... meu desespero quanto à situação de continuar a viver com ram era já imcomportável, temia por o que lhe podia fazer com a raiva que nutria por ele e pelas atitudes dele... precisava de mudar-me o mais rápido possível e foi aí que nm me voltou a dar uma ajuda enorme quando me garantiu que no prazo de dois dias úteis tinha em casa água, luz e gás... uma vez mais a profecia cumpriu-se e na mesma semana em que assinei contrato estava a mudar-me para o sítio de onde estou agora a escrever... foi também nm que me ajudou nessa mudança... numa noite de trabalho árduo retirámos tudo da casa de ram e passámos para aqui... não tinha palavras para lhe agradecer por tudo, sentia uma dívida de gratidão do tamanho do mundo, ele havia sido espectacular comigo... porém e infelizmente a história não acaba aqui...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

obstáculos e lições no caminho I...


quando mm apareceu na minha vida estava num processo de construção... como disse logo de início estava pela primeira vez a construir o meu grupo de amigos, de pessoas que durante anos por não ter causavam um enorme vazio dentro de mim... quando conheci mm e pus à disposição dele aquilo que possuía esse processo foi estupidamente interrompido... mm a primeira pessoa com quem fiz projectos, com quem construi meus sonhos, desapareceu foi na pequena construção que tinha feito meses antes e no meu espaço que encontrei o apoio que necessitei naquele momento... tirei da partida dele uma lição, uma lição que durante anos mantive na minha vida até ao extremo: os amigos são aquela parte de nós de que não podemos abdicar nunca aconteça o que acontecer, são o nosso pilar, a nossa base... em londres percebi o quanto esta lição tinha de errado e acertado... é certo que os amigos são uma parte boa e vital na nossa existência, porém há limites numa amizade, limites que têm de ser necessáriamente diferentes aos limites do amor... durante anos muitos foram os amigos em quem depositei toda a confiança, todos os sentires, toda a dádiva mesmo com as chapadas que fui levando de cada um com o passar do tempo... sinto necessidade de referir e de falar de alguns casos com mais pormenor, pela mágoa e pela forte dor e vazio que os factos e as atitudes me causaram... começo por falar do amigo que era o pandinha... era o meu amigo por excelência quando vim para lisboa... um irmão, um confidente... desde fins de semanas a tardes/noites num café, numa mesa a falar tantas vezes do que já não havia para falar... pandinha, o meu amigo gordinho que tinha a mais bonita gargalhada que jamais ouvi... confesso que o seu afastamento foi de todos os que vou falar, aquele que menos me custou pois compreendi o porquê, e imaginei-me na sua situação... quando vim para lisboa, pandinha havia começado a namorar há uns meses atrás... muitas foram as pessoas que passaram na vida dele por umas horas devido à sua aparência física... cara linda, alma reluzente, corpo grande e pesado... até aparecer ele, aquele a quem pandinha apelidou de koalinha... totalmente diferente na aparência... não sendo um ex-libris da beleza foi aquela pessoa que fez o pandinha acreditar que era possível ser amado pelo ser... dei-me conta do amor de pandinha pelo seu koalinha... não tardaram muitos meses até sentir que havia daquela parte ciúmes daqueles que eram os amigos e a admiração que os amigos que vinham de trás tinham pelo pandinha... e com o cíume a vontade de dominar e controlar tudo para a sua volta... cedi durante alguns meses, mas essa cedência tornou-se maior a cada dia, atingindo o momento em que se tornava incomportável continuar perto... afastei-me, mas não sei antes dizer o que sentia e via ao pandinha meu amigo... percebi que com o passar do tempo o afastamento total era inevitável como semanas depois se veio a verificar... já lá vão quase quatro anos desde esse afastamento... guardo aquela gargalhada junto dos meus sinceros votos de felicidade ainda que pense que uma pessoa tão especial, merecia alguém melhor do seu lado... através do pandinha, conheci a fokinha... um ser directo e sincero de quem nem não é fácil gostar e ganhar aproximação... tornou-se aquela amiga por o que aos poucos e poucos fomos juntos vivendo... todos, mas todos os dias sem excepção estávamos juntos... havia sempre tema de conversa, quase sempre boa disposição e maluqueiras... mais loucuras tínhamos cometido se as coisas não tivessem mudado como mudaram... senti a mudança quando fokinha acabou aos trinta anos de tirar a carta... começou aí a distância... e muitos outros factores dos quais ainda hoje me culpo ditaram o nosso afastamento... era a minha gaija como lhe dizia... admirava-a como admirei poucas mulheres na minha vida... por fim queria falar daquele que mais me magoou, mais me feriu e manipulou... para ser mais fácil vou dar-lhe o nome de nm... este ser entrou na minha vida de uma forma ímpar... seus pais eram conhecidos de meus pais e meus pais falaram-lhe de mim e do facto de estar em lisboa... apareceu em minha casa nesse mesmo dia... não criámos logo laços muito forte e demorou tempo até que isso acontecesse... por ser uma história tão diferente de todas as outras será contada no texto seguinte...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

caminho X...


em londres sobrevivi durante dias com a esperança de que voltaria ao meu país, à cidade que sempre vi como perfeita para realizar todos os meus sonhos, à aldeia que me viu crescer e tudo ficaria de novo bem, que o desespero que lá sentia iria dar lugar à paz que necessitava simplesmente para respirar naquele momento... passavam vinte e um dias do mês de agosto quando cheguei a lisboa e estive com Tinkie... parti no dia seguinte para junto daqueles em quem depositava todas as minhas esperanças para me darem a paz que já referi... cheguei junto deles e aguardei por essa paz.. não chegou... chegou antes o desespero de não a conseguir sentir nem ali, junto de todos aqueles que via como os pilares da minha vida... abracei minha mãe, chorei no seu ombro... pedi-lhe que dormisse comigo, pedido a que ela acedeu... mas nem junto de minha mãe, de meu pai, de toda a família, de todos os meus amigos essa paz se fez sentir... apenas desespero... chorei... sábado, domingo, segunda, terça e quarta dia em que tinha minha viagem de regresso a londres... se no início senti a preocupação de minha mãe comigo, a sua precupação comigo, logo percebi que afinal minha mãe que me fez esperar três anos, não havia afinal mudado tanto, repetindo a mesma atitude que havia tido vezes sem conta no passado... chorei até secarem minhas lágrimas com aqueles que vendo-me naquele estado me deram a mão e não me deixaram cair sozinho... sentia-me a cair mais a cada momento sem conseguir encontrar uma âncora para me amparar e interromper, ainda que por instantes, minha queda... se em londres o desespero era combatido pelo facto de saber que em portugal, junto dos meus, iria encontrar a paz que desejava, em portugal, junto deles sem sentir essa paz a única saída parecia ser o desejo louco de desistir, de caminhar para o fim... nunca havia estado tão próximo do abismo e a vontade de me atirar era imensa... mas não podia fazê-lo... não podia fazer outros carregarem uma cruz que não era sua, porque eu não consegui carregá-la... só num sítio encontrei alguma serenidade, junto da campa de minha avó num fim de tarde... sentei-me, chorei e aliviei por instantes minha dor... aproximava-se o momento de voltar a londres e a desilusão era tanta que não dava para me agarrar ao facto de não querer desiludir os outros e por isso ter que ir, mas sim pelo facto de saber que se não havia desistido perante todo o desespero que senti, então precisava de voltar desta feita por mim, para acabar o que tinha começado lá, para encontrar as respostas que ainda buscava... parti, não por ter sido pressionado mas sim porque havia chegado o momento de fazer algo por mim, mais não fosse recuperar aquilo que todos os medos haviam roubado de mim... não foram dias fáceis, mas foram dias necessários... havia sentido pela primeira vez o limite de minhas forças, o peso da desilusão vinda daqueles por quem me habituei a viver e por quem tantas vezes fiquei para trás... tenho de ser sincero e dizer que jamais teria coragem para enfrentar de novo o que tive de enfrentar, para sofrer o que sofri, para sentir o desespero que senti, mas o balanço foi positvo e triunfei... de londres, trouxe o significado da frase: "estamos sós com tudo aquilo que amamos"; de londres trouxe a conclusão que a paz que tantas vezes quis ir buscar nos outros não está neles, mas dentro de nós próprios; de londres trouxe a força e a garra para poder ser eu perante a vida; de londres trouxe o equilíbrio para voltar a percorrer o caminho certo da folha que representa a vida; e acima de tudo trouxe a noção de que os obstáculos têm que ser contornados em cada momento, e não evitados a todo o momento... é o fim do caminho...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

caminho IX...


no final de mais um ano, tudo continuava igual ao ponto de partida em agosto ou setembro de dois mil e seis, havia apenas aumentado o desequilíbrio, somando falhas, primeiro pessoais e depois profissionais... em junho sentia-me simplesmente a respirar, sem sonhos, sem objectivos sem vontade de travar luta alguma... no fundo havia falhado em todos os aspectos, havia desiludido os que mais amava e a mim próprio... continuar o caminho que tinha seguido nos últimos anos era dar passos largos para o abismo, que passo a passo estava cada vez mais próximo... decidi sair, isolar-me, partir e recompor-me se é que isso ainda era possível... decidi ir para Londres passar seis semanas... a desculpa foi aprender a falar e a perceber inglês, pelo menos foi essa a ideia que criei dentro de mim, e nos que estavam à minha volta... fui lutar por mim, ainda que por motivos profissionais, fui lutar por mim... ao chegar percebi que havia muitos motivos para estar ali que iam muito além do inglês e da faculdade... antes de ir uns diziam que ia fugir e que podia fazer tudo aquilo cá, outros diziam que ia desperdiçar um verão, alguns profanavam que ia ser uma experiência excelente, ao mesmo tempo que havia quem influenciasse minha ida com o objectivo de ir passar uns dias... sem muito apoio e com a ideia de que ia ser bom, que o inglês era mesmo necessário, parti rumo a londres... era o último dia do mês de julho do ano que corre, sexta feira... Tinkie havia-me pedido para se despedir de mim antes de eu partir, mas sabia o quanto vê-lo me ia custar e influenciar, tinha medo, era um risco muito grande e não podia arriscar... só quando cheguei a londres percebi o que tinha feito a mim mesmo... tinha alugado hotel para aquele fim de semana... cheguei ao hotel, a nostalgia evitada pelo stress da viagem e do chegar a uma cama para descansar, desceu sobre mim quando abri a porta daquele quarto com número seiscentos e trinta... recuperei fôlego e saí dali... voltei para o hotel depois de comer algo... quando cheguei ao quarto esperavam-me os medos dos quais fugi durante quatro anos, quem sabe até mais... chorei... desesperei... desejei que o fim de semana passasse rápido para que as aulas começassem logo logo e algo me ocupasse... nesse momento, senti que não estava em londres pelo inglês, mas sim por aquilo que era muito mais importante do que uma licenciatura na área que gosto, do que bons resultados na faculdade, mas antes por reaprender a viver, por reconquistar meus sonhos, meu ser desta vez livre dos medos que me prenderam e me tornaram dependente dos outros, tal como uma droga... os medos que sinto encontram apenas na droga um sinónimo... tornam-me dependente deles... quando algo me toca ou me faz cair então lá estou eu à procura dela, sem olhar a meios, como um toxicodependente quando fere os que mais ama pelas suas gramas de fuga... só que a minha droga são as pessoas, não estar sozinho nunca ainda que inconscientemente tivesse que magoar-me a mim e aos outros para o conseguir... ... a noite passou a custo, e foi já no sábado há noite que eu e Tinkie nos encontrámos no msn... falámos com nosso jeito, com nossas brincadeiras, partilhámos o que tínhamos para partilhar e no final Tinkie disse-me que estava longe do seu mundo para tomar uma decisão importante para o seu futuro... mudar-se para o porto... não consigo explicar ainda hoje como isso me tocou... doeu-me porque era a seguir à minha reconstrução o principal motivo de eu estar ali... como ia ser com ele longe - perguntava a mim mesmo - pedi-lhe que não fosse, que pensasse melhor, que não se precipitasse, mas aquela decisão já estava tomada, aquele tempo longe era para ele próprio se mentalizar do que precisava mentalizar-se e não para decidir o que quer que fosse... vi-me desesperado ali sem puder fazer nada e achando que tudo aquilo era insensato e injusto... logo no momento em que tudo podia mudar verdadeiramente - pensava eu... liguei a duas amigas dele e obtive exactamente essa resposta... não havia sido uma proposta da empresa, mas uma proposta de Tinkie à empresa para aquela mudança, ainda que com limites de tempo definidos... custou tudo aquilo, mas tinha que ser forte e aos poucos comecei a pensar que aquela mudança podia ser boa para nós... se por um lado eu podia aprender a viver sem Tinkie ali do meu lado para me amparar e não deixar que meus medos chegassem, por outro Tinkie longe teria que voltar a confiar em mim, para que a relação fosse possível... as saudades seriam o inconveniente da distância e ao mesmo tempo a receita para o nosso sucesso... voei de londres para lisboa onde Tinkie prometeu estar à minha espera para uma conversa que havia ficado adiada por semanas... no seiscentos e cinco, no nosso seiscentos e cinco junto com um pedido de namoro foi a proposta que fiz a Tinkie...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

caminho VIII...


o rumo, o caminho ou a falta dele continuava igual... mais um verão passado sem que nada mudasse, sem que alguma coisa fosse diferente... não é necessário dizer que as portas da minha vida se mantiveram abertas, dispostas a receber o que de bom e mau quisesse entrar, sem triagens somente com o desequilíbrio que se avolumava em algo semelhante a uma montanha que se tornava cada vez mais alta e começava a ficar próxima das nuvens e longe do alcance da minha visão... foi ainda durante o verão que dei início a uma relação, ou melhor, a uma não relação, com uma pessoa que em nada tinha que ver comigo, que apesar de todo o meu estado fugia esguiamente aqueles que ainda eram os princípios que havia conseguido manter vivos dentro de mim... uma relação condenada ao fracasso fosse qual fosse o futuro... uma relação ou não, que tinha como certo um fim e cujo desequilíbrio definia claramente suas fronteiras de início e mais tarde ou mais cedo de fim também... não havia companheirismo... não havia solidariedade e as diferenças em tudo aquilo que ainda me marcava eram abismais... foi nesta etapa que eu e Tinkie voltamos a falar... meus sonhos para nós voltaram a reinar e senti uma vez mais o desejo de de ter Tinkie na minha vida, se voltar a haver um nós... de um grito, tomei a decisão de acabar o que nunca havera existido... tempos difíceis e conturbados, mas pelos quais tinha de passar... eu e Tinkie, não voltamos naquela altura para os braços um do outro... decidimos dar tempo a um nós para que não houvesse mais o risco de falhar... ideia errada... primeiro o meu desequilíbrio e os medos que comandavam há muito minha forma de agir e estar não eram ultrapassáveis com um tempo, não um tempo daquele tipo, não com aquela forma de ver o tempo; segundo é necessário que esse risco exista vindo das duas partes, que esse risco seja sentido para que não tenhamos o outro como adquirido, como nosso qualquer que seja a situação... ser feliz com alguém significa lutar cada dia por esse ser... acordar com vontade de lutar, e deitar com o desejo de fazer ainda mais no amanhecer seguinte... lições e princípios que sempre tive como meus até deixar que tudo aquilo que passou a comandar minha vida tomasse conta até dessa noção, até de algo que durante anos tinha guiado minha forma de ser e estar com alguém... Tinkie e eu voltámos semanas a seguir a termos falado sobre aquele tempo... cometemos o erro de não lutarmos uma vez mais um pelo outro... pela presença do outro na vida que ambos tínhamos naquele momento, no ser que qualquer um de nós havia passado a ser... começámos de novo a viver juntos e durante mais alguns meses correu de novo bem... até tudo voltar a ser igual... até tudo voltar a comandar e ter acabado de novo e mais uma vez da mesma forma... custa e dói ainda hoje, mas era inevitável qualquer que fosse a dimensão do amor que nos unia... havia muito ainda para combater para conseguir e sem isso acontecer jamais era possível que o amor por si só resolvesse aquilo que eram meus, e nossos problemas... uma vez mais, um ano depois tudo estava ainda pior... faculdade desejada, curso ambicionado resultados totalmente falhados... um, mais um ano passado e tudo o que havia conseguido foi acrescentar passos ao caminho errado naquela que é a minha folha, e medo ainda mais medo de ter de enfrentar os meus medos...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

caminho VII...


...os tempos foram passando... as mágoas foram acumulando e cada vez mais Tinkie e eu chegávamos a um estar, ou um mal estar... meus medos viviam lado a lado comigo, connosco... as pessoas não pararam de entrar, outras de sair... minha vida manteve-se igual a si mesma nos meses que haviam entretanto passado... e Tinkie decidiu retirar-se... não aguentava mais... sofria demais... naquele momento devido a tudo o que havíamos já passado, às magoas criadas, senti que talvez fosse o melhor para ele... quem sabe para mim também... Tinkie partiu... eu parti... o que aconteceu a seguir foi o que sempre aconteceu... de novo, apenas o desequilíbrio conquistado em mais entradas e saídas acumulado ao que já vinha de trás... tinha noção desse desequilíbrio... pior, começava a sentir-me demasiado sujo... na alma, não no corpo... o afastamento do Tinkie não era total, falávamos e estivemos juntos mais que uma vez... mas foi durante o verão que chegou entretanto que o afastamento total ganhou forma... voltámos a falar um dia... eu havia mudado de casa e por os acasos que a vida sempre nos ofereceu, havíamos voltado a falar um com o outro... estava nessa altura minha vida igual, pior no facto de sentir que pilares se começavam a desmoronar... nessa altura Tinkie estava enamorado com outro rapaz... alguém que não o fazendo feliz, o fazia acreditar que ainda que tivesse de lutar, ele podia conseguir... comigo a luta era quase que em vão... foram muitas as provas que tive de dar a Tinkie, pensando que as tinha... fiz promessas que sei hoje o quão irrealistas eram porque não podiam ser concretizadas não com aquele desequilíbrio e medos a comandar minha vida... lutei e fiz Tinkie acreditar em nós outra vez... vi-o sonhar, vi-o sorrir de novo... foram meses de felicidade... o dinheiro não abonava e problemas na vida de ambos não faltavam, porém nada nos abalou... conseguimos... esse ano meu Tinkie veio passar o natal perto de mim... passagem de ano mágica com tudo aquilo que só um amor sem limites pode permitir a duas pessoas... ficámos só nos... mas ao mesmo tempo tão cheios... Tinkie estudou comigo durante os meus exames em janeiro, lutou comigo com a noção que apesar de não ser em vão os resultados não iriam de novo ser aqueles pelos quais ambos ambicionávamos... aos poucos pelos motivos que já expliquei, comecei aos poucos a ficar distante de Tinkie e os problemas começaram a surgir... daí até ao final meses a seguir fica a distância de muitas mágoas mutuas que não conseguimos inverter a nosso favor e levaram uma vez mais à saída de Tinkie... estávamos em meados de dois mil e oito... nem uma batalha conseguida... nem uma batalha vencida...

domingo, 6 de setembro de 2009

caminho VI...


foram assim os primeiros meses em lisboa... um entra e sai de pessoas, de encontros e desencontros de pessoas e de mim mesmo... mas foi no último mês desse ano, relembro que estava no ano de dois mil e seis, que surgiu algo completamente inesperado tendo em conta os últimos meses... f.p. o rapaz que já referi em textos anteriores, havia decidido voltar disposto a ficar comigo... eu e Tinkie estavamos a passar por momentos difíceis e naquele momento segui-me apenas por os impulsos que aquele regresso repetentino à minha vida havia causado... decidi passar a passagem de ano ao lado de f.p. deixando Tinkie para trás... Tinkie que tinha esperado que eu marcasse a minha passagem de ano para que ele marcasse a dele... foi uma noite que jamais esquecerei, porém não foi sequer uma noite feliz, havia o Tinkie e não consegui abstrair-me dele, do sofrimento que naquele momento lhe estava a causar, e em todo aquele que no dia seguinte lhe iria infringir... senti que precisava viver aquilo, ainda que não acreditasse que durasse mais que um mês e que tivesse plena noção de que estaria certamente condenado ao fracasso, hoje percebo que talvez o fracasso tenha partido de mim e não do outro lado... ao fim dessa noite, parti e fui ter com Tinkie... seus olhos estavam brilhantes como alguém que chorava mas não vertia lágrimas... triste... assustado e notoriamente perdido naquela que era a nossa história, ou talvez deva dizer estória... pedi tempo a Tinkie, disse-lhe que precisava desse tempo, que precisava encaixar algumas coisas, falei-lhe indirectamente do que ele percebera logo naquele momento mas não quis acreditar... era já manhã do primeiro dia do ano de dois mil e sete, quando ao final da conversa com Tinkie ele me pediu, dorme comigo, passa a noite comigo... hesitei, por ele não por mim, tinha medo da dor que aquela noite lhe podia causar, não podia magoá-lo mais mas não podia dizer-lhe que não naquele momento, não ao fim do que já tínhamos suportado juntos... antes de adormecer pedi ao Tinkie que lesse minhas mensagens de manhã e ele aceitou... não preciso nem quero dizer como aquilo acabou... fez doer meu coração... um dia passou e no dia seguinte ao acordar antes mesmo de me lembrar de f.p., de sentir a sua falta, senti falta de Tinkie, liguei-lhe pedi-lhe que não se afastasse que não me deixasse, precisava dele do meu lado... e Tinkie esteve... ficou... porém durante aquela semana, mais do que estar bem pelo facto de não ter f.p. estava mal pois não tinha meu Tinkie como havia tido... durante essa semana os medos voltaram ainda mais fortes, e mesmo estando f.p. na minha vida, envolvi-me com outras pessoas, porque tudo não passou de um não de f.p. que ouvi na altura errada da minha vida e que me fez lutar por algo que não passava de uma ilusão criada por um momento... jamais esperava que fosse ficar mais triste com o facto de não ter Tinkie, do que com o facto de ter f.p. ao meu lado... com f.p. durou uma semana... nem ele foi capaz de me fazer bem, nem eu a ele... na verdade não tinha nada para lhe dar, excepto amizade que foi aquilo que exactamente sete dias depois daquela passagem de ano lhe disse... daquela conversa com f.p. saí a correr para os braços de meu Tinkie, que uma vez mais me recebeu de braços abertos, com todo o apoio e compreensão...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

caminho V...


não é possível falar sobre esta parte do penoso caminho iniciado sem voltar uns meses atrás, antes de minha mudança para lisboa... é imprescindível voltar atrás no tempo pois nesse tempo está o início do que quero falar... passavam seis meses do ano de dois mil e seis, o verão que antecedia lisboa, a minha tão sonhada lisboa... eram já evidentes alguns sinais de desequilíbrio e medo profundo pelo que aí vinha... escancarei as portas de minha vida, e deixei que bom e mau entrasse sem dificuldades... não tinha para dar nada mais do que minha carência... havia já entrado alguém antes, mas que saiu com o tempo sem dar justificação... não tinha levado nada consigo, logo também não havia nada para reclamar... com a chegada das férias mais duas pessoas entraram, com poucos dias de espaço entre si... envolvi-me com o primeiro, para nem um mês depois me envolver com o segundo, e para poucas semanas depois, ao ver o Tinkie de novo, depois do tempo que nos havia separado quando o Tinkie tomou conhecimento de f.p. e se afastou, nos envolvermos e termos prometido um ao outro que nunca mais nos iríamos afastar... ao primeiro disse directamente que tinha estado com outra pessoa; ao segundo de uma forma mais meiga falei de Tinkie e de tudo o que voltar a vê-lo, sem nunca referir o envolvimento que tivemos, tinha significado na minha vida... é certo que ter estado com Tinkie foi o auge de tudo, por tudo o que despertou e redespertou em mim, porém não chegou com aquele momento o sentimento que outrora havia sentido, como não chegou nos meses seguintes... fizemos de novo projectos a dois, não como namorados mas como amantes... não esperava trair ninguém até ao fim de meus dias e muito menos duas pessoas no espaço de poucas semanas, ainda que não possa usar traição para definir o que fiz pois não senti nunca que tivesse tido uma relação com qualquer um dos dois seres... passadas as férias e já em lisboa tinha do meu lado um Tinkie desolado por ver o que se havia tornado minha vida e meu ser, mas incondicionalmente do meu lado e na minha vida em tudo... de setembro a dezembro mais duas pessoas entraram, e numa delas pedi tempo ao Tinkie usando como desculpa o facto de entre nós não estar a funcionar e de precisar de voltar a acreditar que era possível... voltei passado dois dias, não porque não tive o que queria, mas porque tinha já o que queria sem saber que o tinha... estava ainda para chegar o momento do ano porque havia esperado meses, e eis que senti o que jamais havia esperado sentir quando aquele momento chegasse...

caminho IV...


já em lisboa, uma nova etapa do caminho ficou marcada por uma proximidade muito grande com aqueles que havia conhecido em diversas ocasiões anteriores... nessa altura haviam cinco pessoas com quem partilhava todos os segundos em que não estava a dormir, eram a fokinha, o pandinha e o koalinha (namorados), o ram e claro mais que todos eles o Tinkie... se no início minha vida académica me despertou interesse e expectativa logo esse encanto se perdeu... entrei na segunda fase e facilidade de adaptação a novos meios não é o meu forte... consegui alguns colegas naquele ano, dois para ser sincero, mas confesso que hoje passados três anos e uma mudança de faculdade e de curso pelo meio, não tenho ainda em minha faculdade dois colegas com quem possa partilhar o que durante dias, poucos devido ao facto de ir raramente à faculdade, partilhei com aqueles dois... uns dias porque não conseguia acordar e não ia, outros simplesmente porque não tinha vontade de ir, meus dias passaram a ser minhas noites e minhas noites meus dias e assim dei o contributo que faltava para o que se viria a passar nos anos seguintes... acordar às seis da tarde para ir buscar a fokinha ao trabalho, tomarmos café durante horas e falarmos tantas e tantas vezes sobre o inexistente; aparecia o pandinha e o koalinha sempre que possível e o rumo a partir desse café era o que o dia propusesse sem planos nem orientações, simplesmente sem rumo... se inicialmente achei piada, cedo voltei a perceber que aquilo não ia dar bom resultado... sempre havia sonhado com uma fase da minha vida em que não houvessem planos nem compromissos que não os do momento, porém não havia equilíbrio, nem sentir para puder disfrutar do esse sonho tinha para me dar... liguei um dia a meus país e disse que não ia fazer exame algum, que ia trabalhar durante aqueles meses e em setembro retomaria estudos desta feita já na faculdade que pretendia... minha mãe proibiu de imediato e meu pai retorquiu que ninguém me tinha pedido nada, nem resultados nem qualquer outra coisa... aconselhou que fizesse meus exames, que se não demorasse cinco demoraria dez anos a concluir o curso mas minha ocupação seria aquela e não outra... no final do primeiro semestre fiz uma ou duas cadeiras, no segundo fiz apenas uma... não sei se teria voltado a estudar ao fim de estar a trabalhar, como meus pais receavam, sei sim que talvez tivesse sido uma ajuda para não atingir os estados que atingi... sem nenhum objectivo profissional para aquele ano, minha vida passou a ser dirigida por emoções e tantas vezes falta delas... reinavam os medos, o pavor de estar sozinho, a carência e ao mesmo tempo a satisfação, um estar de estar, um viver de viver... e aqueles meses tornaram-me dependente dos outros para tudo porque eu não tinha nada por que lutar, se não por a única coisa que me fazia sentir eu...lutar por o ser que me havia cativado... o que é que mudei realmente na minha vida para que isso acontecesse?... nada...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

caminho III...


chegava a derradeira prova... sonhava há muito viver em lisboa, fazer lá minha vida, puder ter acesso à liberdade que num meio pequeno não é possível... vinham aí os exames nacionais e os medos ressurgidos poucos meses antes, começavam a dominar-me e a permitir-me quebras de princípios que anos antes, e meses antes não eram possíveis... deixei que novas pessoas entrassem, simplesmente porque tinha que me sentir apoiado para fazer os meus exames e partir rumo aquela cidade, à cidade sempre presente nos meus sonhos e projectos... nesse momento aconteceu algo pela primeira vez... se por um lado uma das coisas que me dava força para aquela luta era o facto de acreditar que só assim seria possível estar com fp, por outro lado imaginar aquela luta ou até mesmo a minha ida para lisboa sem o Tinkie, junto comigo do meu lado tudo era cinzento e confesso, inimaginável, se um era acessório ou capricho, o outro era na sua íntegra essencial... Tinkie e eu voltámos a falar por minha iniciativa julgo eu, e foi ele quem apoiou decisivamente aquela fase... venci... consegui não todo o objectivo, mas parte dele, isto é, não tive média para a faculdade que queria, mas tinha média para a segunda da minha preferência na qual entrei na segunda fase do concurso... antes de partir rumo à cidade que era já parte de mim, desta vez para ficar, fui de novo invadido por medos, anos a sonhar com aquele dia, e quando ele chegou não estava preparado nem lá perto... parti apertado e desprotegido... lembro-me de ter chegado a lisboa para ficar, na casa de um amigo de meu pai... custaram as primeiras noites, tinha medo de ficar ali sozinho e tal como meses antes, naquele momento tudo começou a ser viável para que esses medos não se concretizassem, não me invadissem... o Tinkie sempre lá para me fazer companhia... na noite antes de ir matricular-me na faculdade que entrei na primeira fase consegui fugir de meus tios, de meu primo e ir dormir com ele ao quarto dele, como nunca acontecera... adormecemos... ele estava atrasado, eu também e de metro fomos até entrecampos onde apanhamos um táxi que o deixou no trabalho e a mim no instituto superior de ciências sociais e políticas... almoçámos juntos no final da minha matrícula... foi bom tudo aquilo mas estando ele a amar-me, e eu não conseguindo naquele momento amá-lo, perguntava-me o que havia acontecido ao que sentia por ele, e porque não o sentia naquele momento, apesar de olhar para ele e não conseguir ficar longe dele, pelos medos é certo, mas acima de tudo porque era com ele, em seus braços que me sentia bem e que gostava verdadeiramente de estar... mas nada do que tinha e sentia naquele momento era suficiente para evitar todo um processo de desconhecimento próprio e autodestruição, sobre o qual só hoje mais de três anos depois consigo falar e compreender com clareza... deixei afundar muitos sonhos pelos medos e perdi a parte racional que antes se sobrepunha à emocional ajudando a acalmar meus medos, deixei de saber dizer não, cedi aos meus ideias para não viver medos, com uma única certeza, que tudo não passava de um adiamento que quando terminasse ia ser muito doloroso... não me enganei...
post script. desde os tempos do meu espacinho, retratado em postes anteriores, que vejo a vida como uma folha, tal como na imagem... a linha verde representa o rumo certo, o caminho que
de acordo com nossos princípios, crenças, sonhos e objectivos e tudo aquilo que é mais importante para nós, devemos segui... porém há momentos em que nos desviamos para a linha azul ou vermelha, e temos a noção que não é o rumo certo a seguir, ainda que possmos ir até ao fim por ele... não há ligação nenhuma entre os caminhos, o que significa que temos sempre de "voltar atrás", ou seja sofrer tanto mais quanto maior for o caminho que fizermos desviados do caminho certo... não acredito em destino algum, senão aquele que é traçado por cada um... quanto a mim, vivi os últimos anos na linha azul com medo de fazer o caminho de volta e de sentir de novo muita coisa...

caminho II...


durante meses a fio foi estranheza o que senti em mim... ele continuava ali do meu lado, lutando e fazendo o que podia para me ajudar, contudo nessa altura meu amor tinha ficado escondido e resguardado da racionalização que senti necessária naquele momento... resguardado simplesmente porque era demasiado especial e porque quando iniciei aquele processo, sabia que não queria mudar o que sentia, não queria deixar de sentir tudo aquilo nem perder o que quer que pudesse perder daquele amor, somente acrescentar-lhe mais e mais linhas... o tempo demonstrou que consegui fazê-lo, sem me ter dado conta, no entanto também me demonstrou que devia ter dado conta mais cedo que tinha tido sucesso quando o resguardei... adiante... estava a decorrer o ano de dois mil e sete, do qual passavam poucos meses desde o início, quando deixei e quis que na minha entrasse um ser (em seguida designado apenas de fp)... começámos a falar primeiramente online e um dia por telefone enquanto viajava rumo a lisboa para umas férias de páscoa... era uma pessoa diferente, instável ao qual achei graça, piada e senti interesse... nasceu uma relação daqueles dias, uma relação marcada pelo medo dele da distância que nos separava... pediu-me simplesmente que não mudasse minha atitude quando deixasse lisboa... algo que aconteceu assim que regressei à minha casa, ao meu espaço, ou melhor aquele que começava a deixar de ser o meu espaço e passava a ser simplesmente um espaço onde estudava, conversava mas já não reflectia, não vivia e não despejava as minhas emoções, porque nesse momento estava demasiado frio e apesar de saber que as possuía, não as sentia... a pessoa que amava, adiante prefiro chamar-lhe Tinkie, não conseguira ficar do meu lado pela dor que tudo aquilo lhe causava e afastou-se... e eu continuei, a frieza que havia conquistado e o facto de ter isolado aquele sentimento lindo por ele, permitiu-me continuar, abalado mas em frente... até que a relação subitamente conheceu seu fim, justificado pela distância e por o fp não me sentir igual... a verdade? não estava igual, as saudades não me causavam a dor que corroía o coração e o sentimento não tinha a profundidade suficiente para lutar contra a distância, quer da minha parte quer da parte dele, além de que outra uma pessoa do seu passado havia regressado à sua vida fazia pouco tempo... corri a lisboa, precisava ter certeza daquela decisão e daquele fim... a resposta no frente-a-frente foi a que esperava e a relação havia mesmo terminado... fiquei triste, triste porque descobri que apesar de não sentir algo desmedido por ele, descobri naquele dia que aquele miúdo me tinha cativado com sua instabilidade, não o amei, mas deslumbrei-me com algumas coisas no seu ser... era inocente, como eu havia sido durante anos, - continuo a ser em demasia acho eu - e marcou-me naquela fase, quebrou o cubo de gelo criado, fez voltar os medos que sentia e decidi que havia de lutar por ele, algo que nunca cheguei verdadeiramente a fazer, quis fazê-lo mas não havia um fim que me fizesse sofrer e ir lutar contra tudo e contra todos e principalmente contra mim, única e exclusivamente porque só o consigo, e acho que posso dizer conseguimos, quando é amor e não deslumbramento, quando sentimos que amamos e não quando nos sentimos cativados por alguém... no entanto, aquele foi o momento em que os medos regressaram, depois de meses em que haviam ficado detrás do gelo...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

o caminho I...


tempos difíceis porque o sentimento era forte, a partilha era muito grande, a saudade corroía... mas eu era sincero, não podia fazer-lhe mal ou mentir-lhe não a ele... e assim, durante semanas e semanas a fio voltei ao meu espaço... dava-me força apenas o facto de naquele momento ter um grupo de amigos que via como sólido, e que me dava força para viver cada dia... escrevi e racionalizei durante aquelas semanas tudo o que havia sentido aquando do primeiro sonho, do primeiro projecto que imaginei ao lado de alguém... foi um processo que demorou meses a fio e foi possível racionalizar muita coisa, mas que não atingiu o objectivo pretendido porque ao racionalizar apenas o primeiro ser e o sentimento por ele, relativizou tudo aquilo que foi um passado de muita mágoa, de muito sofrimento, ao mesmo tempo que deixou para trás aquele que foi o meu primeiro amor, e único até hoje... não sei explicar como passei esses meses... foram estranhos e não tenho um motivo que consiga isolar para o terem sido, somente o facto de ter enfrentado nessa altura a minha mãe dizendo-lhe directamente aquela qual era a minha orientação sexual... a partir de que o fiz durante meses iniciaram-se tempos de muita agitação entre mim, minha mãe, meu pai... tomei essa decisão porque minha mãe me pressionou com busca a alcançar justificações sobre determinadas atitudes, às quais só o facto de ter uma orientação sexual diferente respondia... foi o seguimento da caminhada de desequilíbrio que se havia iniciado muitos anos antes, que se agravou com o facto de amar alguém e não conseguir sentir-me capaz de ser totalmente verdadeiro com esse alguém e que ganhou novo fôlego com esta confissão...

recomeço II...


uma história marcada por paixão, por amor, por dedicação, por uma partilha intensa e imensa de sentimentos... pelas saudades que a distância colocava...sentia-me simplesmente apaixonado, e queria que ele conhecesse meus pais, minha família, minha casa, meu meio, meus amigos... com muitas mentiras pelo meio, para justificar sua vinda e sua existência fui a lisboa onde vivemos de novo tempos felizes prósperos e ao fim de uns dias levei-o comigo para juntos dos meus... sim o meu namorado esteve em casa dos meus pais como um amigo... nunca me havia sentido tão feliz tão completo, foi o realizar de um sonho com anos... para colmatar a distância um amigo que havia conhecido não há muito fez-me saber que tinha uma casa há disposição, para aparecer e levar aquele que era o meu namorado sempre que assim o entendesse... e durante esse verão ora em Lisboa ora em castelo branco conseguimos estar mais vezes juntos do que pudera-mos imaginar quando fizemos os primeiros projectos a dois... foram meses de sonho, de entrega... está agora a acabar a universidade de verão do psd que nesse ano fui, não só por o projecto me interessar mas para estar com ele... e a seguir ao encerramento da universidade lá estava ele em castelo de vide junto com o amigo que nos ofereceu tantas oportunidades de estar juntos... porém, durante os dias que se seguiram em que estivemos os dois notei que havia algo de estranho em mim, havia voltado a recordar o ser anterior e o deslumbramento causado pelo primeiro projecto, pelo primeiro sonho a dois... durante dias aquilo corroeu-me... e não podia deixar de partilhar isso com a pessoa por quem estava apaixonado naquele momento... chorei... choramos... partilhei meus medos, abri as portas e deixei que ele entrasse no mais fundo de mim... recordo ainda os abraços, o carinho, a compreensão que naquele momento ele teve, subjugando seus medos a meu bem-estar... pediu-me que fosse feliz que fizesse o que quisesse que do outro lado ele ia estar sempre a apoiar-me porque me amava... fui deixar ele ao comboio que o havia de levar rumo a Lisboa à cidade que nos havia recebido... não queria magoá-lo mas sentia que primeiro precisar conseguir isolar tudo o que vinha de trás... e chorando, passavam dezassete dias do mês de outubro quando lhe pedi para acabarmos... por telefone... foi tanta a dor que senti e que lhe infligi que momentos a seguir pedi para que esquecesse aquele momento até voltarmos a estar juntos... e assim foi... começara então uma etapa que nunca se concluiu, que hoje sei ser uma das origens do desequilíbrio que ao longo dos quarenta e cinco meses que entretanto passaram só consegui aprofundar mais e mais e mais...

domingo, 30 de agosto de 2009

recomeço I...


estava a decorrer o mês de abril quando um ser apareceu na minha vida... alguém que chegou e ficou... que não prometeu nada nem pediu nada... alguém que aos poucos me fez sonhar e juntou os pedaços perdidos do meu coração... estava na serra quando começamos a conversar e durante um mês e meio durante horas e horas falamos sobre tudo aquilo que nos caracterizava, demos a conhecer o dia a dia um do outro numa partilha incessante e única... com muita expectativa e cheio de nervos e ansiedade apanhei comboio e parti rumo a lisboa numa sexta-feira... quando o comboio parou no oriente, ao fim de três horas que haviam parecido dias, lá estava ele, exactamente como havia imaginado, com uma voz ainda mais meiga do que aquela que o telefone deixara escutar... levou-me a casa dos meus tios, onde com doçura e com saudade imensa marcamos o encontro seguinte... tínhamos previamente combinado passar juntos a noite de domingo para segunda... e assim foi, tudo como combinado mas ainda mais perfeito do que o esperado... entramos naquele que ficará para sempre o nosso hotel e o nosso quarto... 605 era o seu número e foi exactamente seis meses depois do início do ano que era dois mil e seis, e cinco depois depois do sexto mês do ano que no final de um longo beijo eu disse: agora tens de me pedir em namoro, e ele perguntou: "queres namorar comigo"?, respondi que sim, obviamente que sim! e ele pediu: "então agora pergunta tu", sorrimos e perguntei: queres namorar comigo? e ele respondeu: "não quero mais nada"... foi a nossa primeira noite de amor... uma noite tímida de duas pessoas que tinham medo de tudo o que pudesse acabar com aquela magia... antes de cedermos ao sono e ao cansaço fomos ao bar do hotel e lembro-me do clima que criamos... agarrados... abraçados e principalmente quando deitei a minha cabeça nas suas pernas... caras cheias de admiração, pessoas constrangidas que as nós apenas nos faziam rir... adormecemos depois de muitos muitos beijos que souberam a tão pouco, disse-mos coisas bonitas e adormecemos agarrados... acordamos para tomar pequeno almoço que não aguentávamos mais a fome porque para estarmos sempre juntos não comemos no dia anterior e voltamos para a cama... estávamos deitados quando ligou minha mãe zangada por ter perdido meu comboio da manhã... levantámos só depois e já com nostalgia e melancolia por estar a chegar de novo a distância... partimos e fomos para o oriente onde me lembro de na mesma posição do bar no dia anterior e no banco que se pode ver em cima, pus a minha cabeça e chorei sem conseguir parar... ele não chorou e eu tinha medo, tinha dado de novo tudo e aquela atitude dele não chorar fez-me pensar que ele não havia sentido as mesmas coisas que eu senti naquele fim de semana... entrei no comboio, chorava e chorei a viagem inteira junto à última carruagem do comboio da qual se via a linha que estava a separar-me daquele ser...

sábado, 29 de agosto de 2009

descoberta...consciência...sonho...II...


passadas mais umas férias, que optava sempre por passar em Lisboa com tios e primos por gostar do ambiente, por mudar de ares e acima de tudo para evitar conflitos de maior com a minha mãe, voltei à escola... tinha aquele tempo cerca de duzentos meses, o equivalente a dezasseis anos e uns meses quando conheci um ser... alguém que tinha demasiadas coisas em comum comigo... alguém que não esperava conhecer naquele momento e a quem por ingenuidade dei tudo o que tinha sem limites, simplesmente acreditava que do outro lado estava alguém que sentia tudo da mesma forma... tivemos juntos duas únicas vezes e uma terceira exactamente dois anos depois da segunda... durou dois meses... em que o sonho atingiu o auge, a dádiva não conheceu seus limites e sentia-me estupidamente feliz sem perceber os sinais que iam chegando do outro lado... até que um dia, chegou mesmo ao fim... cada um foi para seu lado... foi a primeira vez que havia dado daquela forma, e sentia demasiada raiva, assente numa revolta terrível, e em porquês... queria vingar-me daquele ser, não por as coisas não terem dado certo mas pela falta de sinceridade e lealdade que percebi quando as coisas terminaram, por nem uma palavra de preocupação por nenhum segundo de apoio... era uma relação à distância... mas distancia alguma justifica aquela(s) atitude(s)... não fiz nada... não me vinguei e percebi duas coisas naquele momento: a vingança destrói-nos e corrói tudo dentro de nós, além de que a raiva que a motivava mais tarde revelou ser demasiado fraca quando comparada com as saudades que sentia; e a segunda lição que todo aquele sofrimento me deu a conhecer, é que mais tarde ou mais cedo a vida nos ensina o que precisamos de aprender, nem sempre da forma mais justa, mas ensina... tudo... o fim havia chegado em janeiro, e foi aí que me voltei a fechar dentro de mim... não conseguia dar nada a ninguém... só mágoa, só dor... voltei a fechar-me no meu espaço, somente com aquilo que sentia procurando resposta para os porquês do que havia acontecido... foram quatro meses em profunda angústia que no fim me conduziram à única pessoa que amei, que amo, que sei que amarei sempre...

descoberta...consciência...sonho...I...

depois de umas férias que haviam sido bastante mais tranquilas que todas as outras, pelo motivo que referi no último texto estava preparado e cheio de expectativas para o ano que se aproximava... com razão as coisas melhoraram... senti pela primeira vez que tinha amigos que era possível inverter o caminho que anos antes tinha iniciado e percorrido... conheci muita gente, fiz amigos... tinha vontade de ir à escola e sentia que do outro lado alguém sentia a minha falta... as coisas na escola corriam bem... gostava das disciplinas... estudava... mas acima de tudo voltei a sonhar... era um menino com sonhos, com muitos planos, sonhava ser diferente e contagiar e entusiasmar os outros com essa diferença... sempre me conheci assim... sempre me lembro de ter o meu canto e de me fechar lá sozinho horas e horas com um livro, um texto, um pensamento, ou simplesmente um exercício para fazer... e gostava desse canto e precisava dele, e não me importava por os que me rodeavam saírem à sexta e ao sábado à noite, e eu ficar no meu canto... gostava dele, embora aos poucos começasse a sentir falta do convívio que ele não me proporcionava... a verdade é que me sentia bem daquela forma e apreciava o silêncio... o ano acabou... tive saudades durante as férias da escola, das pessoas, de tudo o que tinha conquistado ainda tão recentemente... estava a conseguir dar de novo um pouco de mim aqueles de quem gostava... no final das férias começou mais um ano, um ano particular, um ano que reservava tantas surpresas... e tanto sofrimento também...

tentativa de reconstrução...

passados três anos, voltei para casa... não foi um regresso fácil, e senti muitas vezes que tinha desapontado as expectativas, no entanto em momento algum senti que tinha tomado a decisão errada ainda que o facto de sentir isso ao fim de sofrer tudo o que sofri me tenha feito mal... quando voltei a casa, estava a acabar o oitavo ano e no final de umas férias de verão que foram deliciosas pela simples ideia de não haver mais o sufoco de voltar para aquele sítio, por não adormecer mais a pensar no medo que ia sentir quando voltasse a cair a noite e eu ficasse a chorar para a minha almofada enquanto esperava que o dia nascesse de novo e com ele levasse parte do peso daquele desespero... começou o ano lectivo, ia de mota apanhar o autocarro, mas tudo aquilo me fazia sentir tão bem... esse ano decidi que devia ser rebelde, talvez simplesmente porque chamava a atenção e isso fazia-me sentir bem... desde grandes discussões com professores, até ao confronto directo com a minha mãe, tudo fiz mais não fosse para chatear e incomodar, para me fazer notar... senti que embora ainda não fosse um miúdo comum, começava a haver quem sentisse a minha falta, e isso fez-me bem, fez jorrar a primeira gota de amor próprio de que tenho memória... foi um ano inesquecível, cheio de paixões de loucuras... e acabou de uma forma tão especial... nos últimos dias do ano conheci uma menina que se veio a revelar um ser único, uma confidente, uma amiga, um sonho, uma menina e ao mesmo tempo uma paixão... passou tão rápido aquele ano... quase chumbei, e se não estou em erro acabei com negativa a matemática, a francês e devido ao percurso escolar sempre estável à excepção daqueles meses, o professor de inglês e educação visual decidiram premiar-me com positiva... apesar de nunca ter tido notas tão reles, não consegui arrepender-me de nada do que fiz esse ano... fez-me bem...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

marcas III...

mas as marcas deixadas vão para além dos medos conquistados, absorvidos e que tomam conta de mim em tantos momentos... vão muito para além dos ataques de pânico que me fazem sentir indefeso e pequenino no meio de um mundo cada vez mais egoísta e orientado para as satisfações pessoais dos demais... durante aquele tempo comecei a testar todos há minha volta, desde familiares a "amigos" ou meros conhecidos... procurando em cada um algo que me desiludisse, algo que me fechasse dentro de mim mesmo, que me protegesse dentro das minhas defesas para que não me pudessem magoar... que mal tem isso? - podes perguntar - a resposta é que pura e simplesmente não consigo dar sem tirar a seguir... dou tudo o que de melhor tenho e tudo o que faça feliz o amigo que tá do outro lado, o familiar próximo ou o ser que amo, e logo a seguir com uma atitude simples e tantas e tantas vezes mesquinha e sem fundamento de de quem está do outro lado, estou lá... não para exigir em troca o que dei, mas simplesmente para não dar mais... é difícil descrever, mas é o que acontece... pior... quanto mais importância e significado a pessoa tem na minha vida, maior e mais radical é o corte e só com muito empenho e sem a mínima falha da pessoa, durante dias e dias a fio, consigo dar de novo uma parte do que tirei, e dificilmente consigo dar tudo o que dei antes de haver uma falha do outro lado... mais que tudo esta é a marca mais terrível que ficou... podia estar feliz e não tou por ela, não enquanto não a deixar para trás...

marcas II...

durante todo aquele tempo, foram nulos os momentos em que consegui sentir-me, em que visse algo que gostasse em mim... quando nem nós temos o mínimo de amor próprio quem o vai conseguir ter por nós? quem consegue ser amigo de alguém que não é amigo de si mesmo? posso dizer que não tinha um único amigo nessa altura... nem eu próprio o conseguia ser... tinha colegas, pessoas com quem simpatizava... lembro-me de ir à escola e quando alguém faltava havia preocupação, mandavam-se mensagens para saber se tinha acontecido alguma coisa... eu podia faltar semanas que isso nunca acontecia... dói é terrível... e ao mesmo tempo, quando estamos mal só atraímos coisas más à nossa volta... era um miúdo frio, não dava com medo que me tirassem o pouco que ainda me restava... era o menino da mamã porque a minha mãe me visitava muitas vezes durante a semana e por vezes tinha autorização especial para sair quando não era o fim de semana de direito... cultivei a imagem de arrogante, de inatingível de certinho e do betinho que tirava boas notas... ninguém se dava conta das fragilidades porque a frieza era tanta, que só a noite as punha a descoberto... o mar tem uma força incrível e pode destruir tudo, porém o mar não tem poder de chegar a todo o sítio, a noite tem... lembro-me que desde aquela noite da segunda semana, passei simplesmente a temer tudo, tinha medo de voltar a sentir-me como naquela noite, mas acima de tudo medo de sentir o medo que senti naquela noite... estar sozinho acompanhado é algo que hoje sinto como pior do que estar sozinho na verdadeira ascensão da palavra... doeu... mudou a minha vida... o meu ser...

marcas I...

tinha precisamente 140meses, 11 anos e meio, quando a convite de um padre amigo e de algumas promessas de que iria ser bom, que ia correr bem e que se não corresse bem estava sempre a tempo de voltar atrás, decidi ingressar num seminário. ficava a vinte quilómetros de casa... sinto hoje que o que mais motivou a minha decisão de ir se ficou a dever à cada vez pior e mais incompreendida relação de amor-ódio que tinha com a minha mãe. funcionava assim: um fim de semana em casa com a família e outro passado no seminário em que ao domingo à tarde podia tar com os meus pais; ia à escola pública e convivia com todos aqueles que todos os dias iam para o calor do lar, de suas famílias; quartos de seis pessoas, três de cada lado frente a frente. gostei da experiência nas primeiras duas semanas... até que no final das duas semanas as luzes se apagaram, todos adormeceram e eu permaneci acordado a chorar, a tremer, a perguntar-me o que me iria acontecer, com saudades de todo o calor que apesar raramente encontrar naquela que era a minha casa, ainda ia encontrando na rua algumas vezes... noites como a que descrevi, repetiram-se semanas e semanas, meses e meses, durante três anos... aprendi a odiar-me... passei a ter uma mente quase adulta, mas continuei num corpo de criança, o que levantou ainda mais complicações de todas as partes... todos dormiam e eu ouvia o sono diferente de cada um, enquanto chorava na minha cama e às vezes, tantas e tantas, sentado numa sanita a ler porque era o único sitio que tinha luz durante a noite. todos sabiam como me sentia, mas tudo permaneceu assim até ser eu a enfrentar tudo e dizer a quem de direito que não queria, não aguentava mais... só assim, e só desta forma, ao fim de uma longa conversa entre as partes, responsáveis pelo seminário a quem disse que estava no limite e meus pais, foi possível pôr fim ao pesadelo. durante três anos procurei, desdenhei, ataquei com simples objectivo de perceber o porquê daquela atitude, o porquê de ter que estar a sofrer tudo aquilo... disse a minha mãe que jamais lhe perdoaria aquela dor, aquele sofrimento... nada ficou igual, tudo foi abalado...

mudança...

foi na partida de um ser único e belo que tudo mudou... levantaram-se muitas questões... nasceu a revolta e começaram os porquês? porque tinhas de partir? porque não me deixaram ir dar-te a mão quando eu quis ir? porque não estava lá para te ajudar, quem sabe para te salvar? partiste fisicamente, mas hoje uma vida inteira depois continuas tão presente... tão viva! todo o tempo que passava contigo foi então dividido por casas, por pessoas, por sítios onde tu nunca me deixarias estar... foi para o meu bem? foi por acomodação? tantas vezes pelos dois motivos. fizeste falta do meu lado... depois veio outra pessoa ocupar o lugar que permanecerá sempre como teu por direito, por carinho, por amor... na minha vida ficou o vazio das saudades, ficou um estar de viver cada dia sem te poder ver, sem poder sentir o teu imenso carinho... veio um ATL horrível e uma desorganização total... como disse em cima, fui criado um pouco por cada pessoa que estava perto naquele momento... ninguém mudou de vida, talvez só de sentir... acabou a escola primária, acabou a peddy paper por casas e pessoas... começou uma etapa diferente, dolorosa e que deixou feridas ainda hoje por sarar...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

no principio...

familia perfeita, unida cheia de alegrias e as tristezas que iam aparecendo facilmente eram vencidas em conjunto. Um patriarca bem forte que apesar de nem sempre tomar as melhores decisões tinha por detrás uma matriarca que conseguia facilmente reunir consenso à sua volta.
Com ela tudo era perfeito, havia compreensão, havia coração, havia luta e acima de tudo união.
Nasci fruto de um casamento tantas vezes perfeito como outras tantas falhado. Uma mãe que sei que me ama, mas que ao longo da vida perdeu sensibilidade na lida com os que lhe são mais queridos. Cresci fruto de uma relação conflituosa com ela, em que nunca reinou o diálogo, a partilha e a companhia.
Só que um dia inesperadamente, partiu a matriarca(minha avó materna e demais vezes minha mãe) de uma família que começava já a dar os primeiros sinais de colapso... e tudo mudou... a familia, e eu...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

plano...

vou começar por escrever sobre a minha infância, sobre os pequenos e grandes acontecimentos que tenham
marcado e ajudado a construir aquilo que sou hoje.

Objectivos primeiros: partilhar e também analizar e descobrir saidas e equilibrio...

Espero durante o dia de hoje e de amanhã fazer a retrospectiva da minha infância e depois passar a outros acontecimentos já da vida de adolescente e da vida adulta...