sexta-feira, 28 de agosto de 2009

marcas II...

durante todo aquele tempo, foram nulos os momentos em que consegui sentir-me, em que visse algo que gostasse em mim... quando nem nós temos o mínimo de amor próprio quem o vai conseguir ter por nós? quem consegue ser amigo de alguém que não é amigo de si mesmo? posso dizer que não tinha um único amigo nessa altura... nem eu próprio o conseguia ser... tinha colegas, pessoas com quem simpatizava... lembro-me de ir à escola e quando alguém faltava havia preocupação, mandavam-se mensagens para saber se tinha acontecido alguma coisa... eu podia faltar semanas que isso nunca acontecia... dói é terrível... e ao mesmo tempo, quando estamos mal só atraímos coisas más à nossa volta... era um miúdo frio, não dava com medo que me tirassem o pouco que ainda me restava... era o menino da mamã porque a minha mãe me visitava muitas vezes durante a semana e por vezes tinha autorização especial para sair quando não era o fim de semana de direito... cultivei a imagem de arrogante, de inatingível de certinho e do betinho que tirava boas notas... ninguém se dava conta das fragilidades porque a frieza era tanta, que só a noite as punha a descoberto... o mar tem uma força incrível e pode destruir tudo, porém o mar não tem poder de chegar a todo o sítio, a noite tem... lembro-me que desde aquela noite da segunda semana, passei simplesmente a temer tudo, tinha medo de voltar a sentir-me como naquela noite, mas acima de tudo medo de sentir o medo que senti naquela noite... estar sozinho acompanhado é algo que hoje sinto como pior do que estar sozinho na verdadeira ascensão da palavra... doeu... mudou a minha vida... o meu ser...

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