sexta-feira, 28 de agosto de 2009

marcas I...

tinha precisamente 140meses, 11 anos e meio, quando a convite de um padre amigo e de algumas promessas de que iria ser bom, que ia correr bem e que se não corresse bem estava sempre a tempo de voltar atrás, decidi ingressar num seminário. ficava a vinte quilómetros de casa... sinto hoje que o que mais motivou a minha decisão de ir se ficou a dever à cada vez pior e mais incompreendida relação de amor-ódio que tinha com a minha mãe. funcionava assim: um fim de semana em casa com a família e outro passado no seminário em que ao domingo à tarde podia tar com os meus pais; ia à escola pública e convivia com todos aqueles que todos os dias iam para o calor do lar, de suas famílias; quartos de seis pessoas, três de cada lado frente a frente. gostei da experiência nas primeiras duas semanas... até que no final das duas semanas as luzes se apagaram, todos adormeceram e eu permaneci acordado a chorar, a tremer, a perguntar-me o que me iria acontecer, com saudades de todo o calor que apesar raramente encontrar naquela que era a minha casa, ainda ia encontrando na rua algumas vezes... noites como a que descrevi, repetiram-se semanas e semanas, meses e meses, durante três anos... aprendi a odiar-me... passei a ter uma mente quase adulta, mas continuei num corpo de criança, o que levantou ainda mais complicações de todas as partes... todos dormiam e eu ouvia o sono diferente de cada um, enquanto chorava na minha cama e às vezes, tantas e tantas, sentado numa sanita a ler porque era o único sitio que tinha luz durante a noite. todos sabiam como me sentia, mas tudo permaneceu assim até ser eu a enfrentar tudo e dizer a quem de direito que não queria, não aguentava mais... só assim, e só desta forma, ao fim de uma longa conversa entre as partes, responsáveis pelo seminário a quem disse que estava no limite e meus pais, foi possível pôr fim ao pesadelo. durante três anos procurei, desdenhei, ataquei com simples objectivo de perceber o porquê daquela atitude, o porquê de ter que estar a sofrer tudo aquilo... disse a minha mãe que jamais lhe perdoaria aquela dor, aquele sofrimento... nada ficou igual, tudo foi abalado...

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